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JAIME PRADES

Jaime Prades é brasileiro nascido na Espanha. Filho de Sul Americanos: mãe brasileira e pai uruguaio. Viveu entre Málaga e Madri até os 12 anos de idade quando a família retornou ao Brasil. Como o seu pai trabalhava com cinema passou a infância rodeado de artistas e nos seus ateliês. Entre eles, Antonio Mingote foi o mais importante. Com ele, Jaime, teve a oportunidade de conviver por muitos verões ali nas vizinhanças de San Pedro de Alcantara em Andaluzia.
No começo de 1970 inicia a sua jornada brasileira no Vale do Paraíba em Jacareí, cidade da sua família materna, onde mora até 1975 quando mudam-se para São Paulo onde reside até hoje.
Faz os seus primeiros cursos livres no Festival de Inverno de Ouro Preto em 1973 quando frequenta o ateliê de xilogravura, aulas de modelo vivo e de desenho com Álvaro Apocalipse e Sergio Macedo. Em 1975, já em São Paulo, frequenta o ateliê 76 de gravura em metal do artista Guyer Salles. Frequenta a Escola Contemporânea de artes em 1977 e 1978. Onde participa da sua primeira exposição coletiva. Nesses anos foi assíduo frequentador das sessões de modelo vivo na antiga arena da Pinacoteca do estado de São Paulo.
Em 1975 trabalhou como assistente de marcenaria e de 1976 a 1979 na Editora Abril como assistente de arte e diagramador. De 1979 a 1983 se integra à Editora Oboré fundada pelo jornalista Sergio Gomes e a artista Laerte. Além de uma equipe de jornalistas teve colaboradores como Glauco e Ailton Krenak entre outros. Em 1981 a editora recebeu o Prêmio Wladimir Herzog como reconhecimento da sua contribuição na criação de um novo padrão de qualidade da linguagem escrita e visual na comunicação popular. A partir de 1983 trabalha como designer gráfico freelance.
De 1984 a 1989 participa do grupo de artistas TUPINÃODÁ e cria com José Carratü o ateliê TUPINÂODÁ. O grupo surgiu para atuar na cena pública da cidade e realizou instalações, performances, ocupações e pinturas urbanas ao longo da sua existência. A sua contribuição na construção da identidade democrática, de um Brasil que ressurgia das trevas, através da irreverência das suas ações, atraíram os olhares de artistas e curadores. Abriram-se as portas de alguns espaços institucionais e o grupo realizou exposições e instalações na Pinacoteca do Estado de SP, no MASP, em eventos da Bienal de SP, no MAC/USP, Sala especial do Salão Paulista, entre outros.
Cria em 1990 o projeto “Arte Possível” de objetos gráficos de séries de múltiplos dos seus grafismos inusitados. Esse projeto que evoluiu ao longo de 14 anos produz aproximadamente 40 mil mini esculturas além de 4 exposições sendo as mais relevantes a do MASP com curadoria de Fabio Magalhães em 1993 e no Espaço Cultural Cervantes em 2013.
A partir de 2008 trabalha no seu projeto “Natureza Humana” coletando restos de madeiras jogados nas ruas da cidade. Realiza instalações em espaços públicos, eventos e no SESC Pompeia além de exposições em museus e galerias.
Ao longo de todos esses anos os seus trabalhos foram expostos em espaços alternativos, centros culturais, em algumas unidades do SESC/SP, em eventos e no seu ateliê. Teve passagens rápidas nas galerias “O Subdistrito”, “Mônica Filgueiras” e “Mezanino”.
A partir de 2019 é representado pela galeria “Andrearehder arte contemporânea” que passa a divulgar as suas obras na galeria e nas feiras: SP_arte e ArPa do circuito nacional.

CV

EXPOSIÇÕES
 
JAIME PRADES

Exposições INDIVIDUAIS

2020
"À Deriva 2020" - SESC Pompéia, São Paulo / curadoria: gerência Sócio Educativa e Jaime Prades

2019
"Gravitations atomiques" - Espace International Cosmopolis, Nantes-França / Curadoria: Jaime Prades

2017
."Céu e Terra" - mural para o SESC Birigui / Curadoria: GEAVT SESC/SP

2016
.“DENTRO/INSIDE” - Galeria Mezanino, São Paulo / Curadoria: Ana Avelar

2014
."À deriva" - instalação aberta no Parque do Ibirapuera, São Paulo. Circuíto Causa+Arte - obra comissionada pela Virada Sustentável/SP / Curadoria: VS e Jaime Prades
."Pacificadores" - Galeria Mezanino, São Paulo / Curadoria: Renato de Cara

2013
."OSSO"- Espaço Cultural Instituto Cervantes, São Paulo / Curadoria: Jaime Prades

2012
."Parede s/ parede" - ateliê galeria Priscila Mainieri, São Paulo / Curadoria: Paulo Klein e Jaime Prades

2011
."Natureza Humana" - instalação SWU, Campinas, SP / Curadoria: José Carratü e Jaime Prades

2010
."Natureza Humana" - Matilha Cultural, São Paulo / Curadoria: Jaime Prades

2009
."Natureza Humana - árvore nº 1" - 10º Festival de Inverno de Bonito, Mato Grosso do Sul / Trabalho comissionado

2004/2009
."O jardim" - SESC Pinheiros (hall do teatro), São Paulo / Curadoria: Elisa Saint'ive

2001
."Desenhos" - Casa/ateliê, São Paulo / Curadoria: Jaime Prades

1998
.“Paisagens” - Plaza Art Gallery, Tóquio, Japão / Curadoria: Wagner Barja
."Jaime Prades" - Escritório de Arte Martin Wurzmann, São Paulo / Curadoria: Jaime Prades

1996
.“Radiantes” – Competition, São Paulo / Curadoria: Jaime Prades

1995
.“Orgânicas” - Galeria A Lanterna, São Paulo / Curadoria: Jaime Prades, São Paulo

1994
.“Verticais” - Centro Cultural São Paulo (CCSP) / Curadoria: Wagner Barja e Edna Gomes Pinto

1993
."Esculturas" - Museu de Arte de São Paulo (MASP) / Curadoria: Fabio Magalhães
."Pinturas e objetos" - Centro Cultural de Convivência, Campinas / Curadoria: Fernando de Bittencourt

1990
."28 metros" - Passagem Consolação, São Paulo / Curadoria:Maria Eduard

Exposições COLETIVAS

2019/2020
."Triangular - arte deste século" Casa Niemeyer, Brasília / Curadoria: Ana Cândida Avelar
"Ossário" na exposição Experimento paisagem. Até 24 fevereiro 2019 no SESC São José dos Campos.

2018/19
."Experimento paisagem" junto com os artistas: Bruno Brito, Diana Gerbelli, Manuella Karmann. SESC São José dos Campos / Curadoria: equipe SESC e Gabriela Leirias

2017
."Discrepâncias e harmonias" Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (MACS) / Curadoria: Fabio Magalhães
."Circuíto de artes Virada Sustentável 2017", Parque do Ibirapuera, São Paulo
."46 edição Chapel Art Show" / Curadoria: Adriana Rede

2016
.“Entreolhares” Museu Afro Brasil, São Paulo / Curadoria: Fábio Magalhães e Edna Matosinho de Pontes

2015
."Dreamns Dealer" Galeria Mezanino, São Paulo / Curadoria: Renato de Cara
."3ª Bienal Internacional do Graffiti Fine Arts" / Curadoria: Binho ribeiro e Renata Junqueira

2014
."SP Estampa" ateliê galeria Priscila Mainieri, São Paulo / Curadoria: Claudio Rocha
."açãoereação" galeria Mônica Filgueiras, São Paulo
."O melhor de cada um" Galeria Mezanino, São Paulo / Curadoria: Renato de Cara

2013
."Um Acervo em Formação" Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (MACS) / Curadoria: Fabio Magalhães
."Reciclarte" Memorial da América Latina e itinerância no Brasil

2012
."Contrapontos" Museu de Arte Sacra de São Paulo / Curadoria: Paulo Klein
."Dessins" galeria L’oeil Aliança Francesa, São Paulo / Fernando Zelman e Danilo Blanco

2010
.“Roupa de Domingo” Galeria Mezanino, São Paulo / Curadoria: Renato de Cara
.“Grafias” Memorial da America Latina, São Paulo

2009
."Arte Urbana" Galeria Olido, São Paulo / Curadoria: Fernando Zelman e Danilo Blanco

2008
.“Todos os Santos” exposição itinerante, Brasil / Curadoria: Marta Oliveira
.“Motomix” Museu de Arte de São Paulo MASP
.“Roupa de Domingo” exposição itinerante / Curadoria: Renato de Cara

2006
."Pinturas" Museu de Arte Contemporânea de Campinas / Curadoria: Fernando de Bittencourt

2002
."Esculturas" Galeria del Barco, Sevilha, Espanha / Curadoria: Pablo del Barco
.“México Imaginário” Casa das Rosas, São Paulo / Curadoria: José Roberto Aguilar

2001
."Rendam-se Terráqueos" Casa das Rosas, São Paulo / Curadoria: José Roberto Aguilar

1996
."UBU, a Patafísica nos Trópicos" Museu de Arte Brasileira MAB/FAAP, São Paulo

1994
."Pinturas e Objetos" Museu de Arte Contemporânea de Florianópolis (MASC), SC
1992
."Pinturas" Galeria Montesanti/Roesler, São Paulo / Curadoria: João Paulo Montesanti
."1ª Mostra Paulista de Graffiti" Museu da Imagem e do Som/MIS, São Paulo

1991
."Bichos" instalação nas margens do Tietê (SESC Interlagos), São Paulo / trabalho comissionado pelo SESC Interlagos

1990
."Multimidia" Laboratoire Evenements Urbains, Grenoble, França / Curadoria: Marie Odile briot

1989
."Lojas Bacanas" Galeria Sesc Paulista, São Paulo

1988
."45º Salão de Arte do Paraná" Museu de Arte Contemporânea de Curitiba (MAC), Paraná / Prêmio exposição individual

1987
."Circuito Ateliê Aberto" Evento Especial 19ª Bienal de São Paulo

1978
."Escola Contemporânea de arte", São Paulo


Exposições GRUPO TUPINÃODÁ (1984 a 1989)

1989
."TRI SEX SUB" - Museu de Arte Contemporânea (MAC/USP) / Curadoria: Ana Mae Barbosa
."Aliança Francesa" - Graffitis, São Paulo / Convite institucional
."20ª Bienal de São Paulo" - Eventos Especiais

1988
."TUPINÃODÁ" - Galeria Cândido Mendes, Rio de Janeiro / Curadoria: João Sattamini e Jaime Prades
."Containers" - 6° Salão Paulista, Sala Especial, São Paulo / Grupo convidado

1987
.“A Trama do Gosto” - Bienal de São Paulo / Curadoria: Alex Vallauri e Maurício Villaça
."TUPINÃODÁ" - Galeria O Subdistrito, São Paulo / Curadoria: João Sattamini e Jaime Prades

1986
.“Projeto Contemporâneos” - Pinacoteca do Estado de São Paulo / Curadoria: Maria Cecília F. Lourenço

1984
."Arte na Rua 2" - Museu de Arte Contemporânea (MAC/USP) / Curadoria: equipe MAC/USP

INTERVENÇÕES

2017
."Céu e Terra" mural (2 x 22m) SESC Birigui, obra comissionada pelo SESC/SP (GEAVT)

2016
.“Metamusicomáquina” mural na rua Bela Cintra 561, São Paulo

2013
."Entre Andares" SESC Ipiranga, São Paulo

2011
."Mantra Dinamus Estelar" apropriação gráfica Parque do Ibirapuera, São Paulo

2008
."Árvore das perguntas" instalação na rua Apinagés, São Paulo
."Lixeiras da Terra/a Terra no Lixo" ruas do centro, São Paulo
 

2006
.“Dínamo Urbano da Harmonia Celeste” São Paulo, Salvador e Recife

1991
."Bichos" instalação nas margens do rio Tietê (SESC Interlagos), São Paulo

ACERVOS (públicos e privados)

."Negra 2" pintura, acervo da Casa da Cultura da América Látina da Universidade de Brasília
."Mãe Universo" acervo de obras públicas da Cidade de São Paulo
."Radiantes" Escola Panamericana de Arte Av. Angélica, São Paulo
."Mantra Dinamus Estelar" Parque Ibirapuera de São Paulo
."Totem Árvore" rua Bela Cintra, 201, Consolação, São Paulo
.“Metamusicomáquina” mural na rua Bela Cintra 561, São Paulo
.Museu de Arte Contemporânea de Santa Catarina (MASC)
.Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC)
.Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (MACS)
.Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP)
.Coleção SESC/SP
."Céu e Terra" mural SESC Birigui

PUBLICAÇÕES

."Arte em São Paulo n° 31" Julho/Agosto, 1985
."A arte de Jaime Prades" Editora Olhares, 2009
."Catálogo geral do acervo do MAC Paraná", edição do museu, 2009
."Estética marginal" Editora Zupi, 2012
. "Panamericana 50 anos" selo Grafica Books, 2013
. "100 anos de edição gráfica da Pinacoteca do Estado" Pinacoteca, 2013
."Jaime Prades" Gráfica Arte Internacional 89/90, Editora Posigraf, 2014
."Revista Brasileira 84" Academia Brasileira de Letras, 2015
."A arte da reciclagem" Editora Globo, 2015
."Entreolhares" catálogo da exposição, edição do museu afrobrasil, 2016
. "Chapel Art Collection - Educating artfully" Chapel School/SP, 2017
. "Brasil faz design - criatividade brasileira no cenário internacional" BFD / Editora Olhares, 2017
. "Diversos" Rede Educare, 2019

PARA ALÉM DO MOVIMENTO

Ana Avelar

Na série Dentro, Jaime Prades, por meio do uso de grafismos, produz uma pintura dinâmica ao mesmo tempo silenciosa, que vibra ao olhar de modo sutil e que explicita, aqui e ali, a presença da mão na caligrafia das linhas e na aplicação da tinta. Desse modo, ressoa a afirmação histórica de Paul Klee – leitura permanente de Prades – sobre o movimento ser “a base de toda transformação”.

Entretanto, apesar da aparência homogênea se vista à distância, os patterns de Prades estão longe de uma op art porque, mesmo sendo a presença do movimento evidente, eles não se configuram apenas como um jogo perceptivo, mas, ao gosto de Klee, como um elemento de transformação da subjetividade. Todavia, estes trabalhos não dizem respeito a um discurso místico, como aquele associado ao início da arte abstrata, mas afirmam as “energias lineares” presentes na arte gráfica, citadas pelo artista suíço-alemão.

A noção contemporânea de patterns (que pode ser traduzida por “padrões”), como entendida por Frank Stella e presente largamente em sua pintura, era utilizada pelo artista norte-americano para garantir uma objetividade do gesto e se opor àquilo que acreditava ser um dado nocivo da tradição europeia: a valorização da pintura equilibrada, compositiva e bem-acabada.

Embora as atuais pinturas de Prades possam evocar visualmente as de Stella, devido ao grafismo e à planaridade, da mesma maneira que as de Stella, nos anos 1960, eram associadas àquelas de Vasarely, as questões que as movem são absolutamente distintas. Ao contrário da literalidade dos padrões de Stella e do fascínio de Vasarely pelas possibilidades da percepção visual do movimento, Prades está interessado no transe estabelecido pela repetição relativa, à maneira de um mantra. É uma experiência que busca, por meio da continuidade e de um trabalho atento, demorado e paciente, proporcionar uma entrada para a contemplação e que o faz adotando uma forma curvilínea e sensual.

Aliás, esse grafismo, que é e não é grade, aliado às irregularidades da mão e a uma palheta silenciosa, faz vir à mente, em termos conceituais, a produção de Agnes Martin, pintora canadense radicada nos EUA. Embora as telas de Martin sejam elaboradas com tons lavados, com a presença da grade ou de listras – elas também borram os limites entre desenho e pintura –, o efeito sensível desses trabalhos se assemelha àquele das pinturas atuais de Prades realizadas, aliás, sem projeto, iniciadas pelo risco de carvão diretamente sobre a tela (um risco que “se faz fazendo”, diz Prades).

Nesse sentido, Martin escreveu com propriedade sobre a beleza e a arte. Para ela, muitas das respostas emocionais diante da vida não podem ser expressas por meio de palavras. Seríamos surpreendidos por obras que se relacionassem a respostas não-verbais. Desse modo, ela aconselhava que mantivéssemos nossa mente tão vazia e tranquila quanto seus trabalhos para que reconhecêssemos nossos sentimentos diante deles. Essa é a postura indicada para adentrarmos as pinturas da exposição de Prades – é preciso olhar detidamente e respeitar o tempo da sensibilidade para compreendê-las.

As telas de Prades parecem crescer para além do espaço pictórico num movimento manso, cuja geometria sutil, em alguns trabalhos, sugere uma membrana que respira. Ele persegue essa geometria mole como uma resposta feminina àquela geometria rígida, de arestas, “masculina”. Segue uma direção oposta à razão; tem interesse pela linha contínua que quer libertar a subjetividade e redimir o prazer. A espessura das linhas e sua sinuosidade fazem lembrar as marcas de um arado, o objeto que cava para revolver e assim arejar o solo, permitindo que aquilo que está por baixo, dentro, seja exposto à superfície. Da mesma maneira, volta e meia, esses “sulcos” sugerem trançados, remetendo ao mundo do tecer e do fiar, tradicionalmente, como se sabe, associado ao feminino.

Prades adota sobretudo uma palheta surda e, ainda que se trate de uma pintura que frisa sua superfície, ela é, em realidade, composta por veladuras. Também a aparente exatidão gráfica, num olhar mais atento, revela seus detalhes gestuais.

Como se pode notar, o trabalho do artista é repleto dessas ambiguidades: um mundo gráfico que habita a pintura, uma pintura que não demonstra discutir a pintura, mas que é elaborada como tal contendo várias camadas materiais absolutamente sutis, uma geometria que diz das sensações e não visa explorar a relação entre os elementos formais.

A pintura pulsante de Prades nos seduz fazendo nossos olhos vagarem suavemente pelas suas formas, e, como com o canto das sereias – e seus cabelos serpenteados –, devemos nos permitir sermos seduzidos porque não tememos o fundo do mar ao qual certamente seremos levados. Nas palavras de Klee, “Deixe-se tragar por este mar revigorante, por um largo rio ou por encantadores riachos, tais como o da arte gráfica aforística, pluri-ramificada”.

SOPRO

Fábio Magalhães

A expressão plástica de Jaime Prades está em permanente transformação com desdobramentos poéticos recorrentes. Não obstante, grande parte dessa dinâmica se dá revisitando sua própria obra e refletindo sobre ela, sobre o já construído, para refazê-la, trespassa-la através de transgressões continuadas. Preocupação incessante do artista de mover-se, de ir além, de partir para novos caminhos.



A Galeria andrea rehder arte contemporânea apresenta um conjunto de obras recentes do artista, realizado entre os anos 2018 e 2021.  A exposição revela o frescor de sua linguagem atual e a adoção de um novo percurso gráfico que dialoga com o pictórico. Nos trabalhos desta mostra, Jaime Prades estabeleceu dois atores visuais que interagem entre si, guardando suas identidades – a grafia de expressão forte e de permanente agitação (atividade); e o pictórico, de repouso e harmonia (passividade). 


A exposição Sopro traz uma poética inquietante, e para realiza-la o artista transformou radicalmente sua paleta de cores, estabeleceu uma nova plástica. O espaço que era fragmentado e tensionado, agora se apresenta contínuo, com tonalidades difusas. Nos amplos espaços sinfônicos de luz e de cor surgem zonas ondulantes de linhas que se agitam no vasto espaço de tonalidades reverberadas, sugerem conceito do taoísmo, do Yin e Yang que representam a dualidade de tudo que existe no universo.


Jaime Prades desenvolveu uma técnica harmônica e integrada entre o lápis e a tinta a óleo. Enquanto a gráfica impõe intenso movimento, a expressão pictórica, por sua vez, sugere imobilidade, talvez um lento mover-se, como algo que se move na imensidão contínua do universo. Essa fusão entre contrários gera uma poética cheia de energia, de mistério e de magia.  A dinâmica conturbada dos elementos gráficos coabita com o lirismo das paisagens nebulosas. 


Ao construir a difícil e bela relação entre a expressão gráfica e pictórica, o artista cria metáforas de tempo, entre o efêmero e o permanente nos contrapontos de repouso e de movimento. 


A exposição traz, também, um conjunto de trabalhos intitulados “Mandorlas”, com forte protagonismo gráfico, formado por linhas ondulantes concêntricas que formam um todo, espécie de território, na parte central do suporte.  Certamente, esses trabalhos aludem às mandalas, que em sânscrito significa círculos, e eram usadas em rituais de meditação – espécie de imagem e referência do mundo.


Há ainda duas assemblages, construídas em alumínio, aço, ferro e madeira. Nelas, o artista expressa de modo tridimensional poéticas semelhantes às obras bidimensionais. É importante ressaltar que Jaime Prades se dedica de modo continuado e com amplo domínio à expressão tridimensional.


Ao ver as obras desta exposição, noto que algo me faz lembrar a atmosfera de Gustav Klimt , mas devo estar sonhando.

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