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PINTURA

abril 2022

Sérgio Fingermann, Ralph Ghere, James Concagh, Celso Orsini, Jaime Prades e Reynaldo Candia. 
Curadoria: Ana Avelar 

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PINTURA

Ana Avelar

Ao dizermos “pintura” estamos assinalando obras de arte que se relacionam com a história dessa prática, seus materiais e convenções. Sendo assim, apenas o sentido do olhar não nos permite mergulhar na pintura, pois é na complexidade sensível e intelectual promovida por ela (e que estabelecemos com ela) que se dá nossa experiência. 
Como argumenta minha colega de ofício, a crítica e historiadora da arte estadunidense Suzanne Hudson, a pintura contemporânea deve ser vista em relação com outras mídias e áreas artísticas. Para além disso, há obviamente seu convívio com as circunstâncias. Assim, torna-se evidente porque não houve, nem vai haver, o fim da pintura – porque ela nunca se torna apenas passado, mesmo que diante de uma vida digital. 
É perceptível como na contemporaneidade o interesse pela pintura se renova, reconfigura e transforma justamente porque sua matéria carrega consigo significados, valores, ideias. Hudson usa as palavras “recursiva” e “generativa” para descrever a pintura no século XXI. Ambas as noções dizem respeito à renovação pela repetição – pensemos nos instrumentos (inclusive nos corpos que pintam), no plano, na cor. 
É nessa chave que a pintura em fluxo deste grupo se apresenta agora. Uma reunião que resultou, como em tantos outros sinistros momentos históricos, da busca pela coletividade como abrigo para a imaginação. 
No entanto, é impossível não endereçar gênero na atual configuração do sistema artístico como tema recorrente. Historicamente, entendemos que traços masculinos foram escolhidos para orientarem narrativas modernistas consagradas (um modernismo dito ocidental, promovido pelas instituições artísticas mais influentes; outras tradições veem e viram de outras maneiras). Foram eles adjetivados por noções de combate e agressividade pelas vanguardas, razão versus intuição, público versus doméstico. Opuseram, desse modo, dois grandes grupos: feminino de um lado, masculino de outro, fazendo com que enorme parte da produção artística ficasse incompreendida no entre desse par antitético. 
A pintura ganhou destaque nessa narrativa, como uma protagonista entre os meios. Então, associou-se a pintura ao gesto criador vigoroso, e mesmo, violento. Desde então, esse arranjo já foi problematizado, criticado, desfeito, tornou-se finalmente clichê e chacota. Talvez, por isso, certa pintura tenha parecido agonizar, mas apenas porque outras estavam surgindo. 
As pinturas que ora presenciamos estão nesse registro excêntrico. Juntas criam uma instalação de coisas entrelaçadas que servem de analogia à própria dinâmica do grupo – falar, ouvir, argumentar, respeitar, sensibilizar, estimar, sobretudo, encontrar. (Esta é uma apresentação introdutória. Outras análises seguirão a curadoria em processo que se estabeleceu com o grupo e deve acompanhá-lo durante o período expositivo)."

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