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MANTOS CORTANTES PARA XAMÃS DESESPERADOS

24/04 - 10/08

Artista Sandra Lapage
Curadoria Carollina Lauriano

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Carollina Lauriano

OS MANTOS CORTANTES PARA XAMÃES DESESPERADOS

Em Mantos Cortantes para Xamãs Desesperados, Sandra Lapage apresenta um conjunto de composições mutáveis que figuram por um lugar entre o escultórico e o têxtil. Ao dobrar,
achatar, moldar e costurar laboriosamente com fios de cobre materiais descartáveis, mas com grande potencial de reutilização - como o alumínio e o plástico, as composições criadas pela artista apresentam diversas camadas de interpretação formal e de sentidos. A primeira delas traz à tona discussões como o excesso de consumo, a produção em larga escala e por conseqûencia o descarte dos mesmo na mesma proporção, e suas reverberações em questões ambientais.
Em questões formais, observando o largo grupo de trabalhos em alumínio aqui apresentados, observamos que a artista subverte as noções de o metal ser um material rígido, manipulando-o de forma a transformá-lo em peças leves e flexíveis, lidando também com a ideia destes tecidos; criados serem estruturas não fixas, de modo que a própria especificidade do material determine naturalmente suas próprias dobras, volumes e texturas. Assim, a artista cria esculturas tão potentes, que a cada montagem apresentam a possibilidade de se tornar uma obra completamente nova.
Se, por um lado Sandra traz à tona a temática urgente de se falar sobre meio-ambiente, por
outro a artista estabelece um diálogo poético entre intransigência e maleabilidade. Ao
percebermos que o material possui capacidade de criar quase que aleatoriamente formas
orgânicas, a artista se vale disso para tecer mantos que, ao serem vistos de longe aparentam delicadeza, leveza e gestos de sensualidade, mas que de perto podem proporcionar uma iminência de violência.
Nesse aspecto, também é interessante analisar como estruturas vestíveis apresentadas pela artista nesta exposição colocam o espectador em uma relação de dualidade: estaríamos nós nos flexibilizando ou enrijecendo perante aos temas de urgência global? Outro tema contemporâneo que suscita a partir destes objetos vestíveis criados pela artista é a construção de uma identidade social, muito pautada nas dinâmicas de interação online. O que de nós está sendo revelado e o que se esconde por detrás da criação de uma persona. Ou ainda, em tempo de fake news e anonimato, qual a veracidade das informações que têm nos sido apresentadas e como a proliferação de avatares e bots têm corroborado para a desestabilização de um sistema democrático.
Se a arte é capaz de questionar o mundo pelo sensível, Sandra Lapage consegue capturar as ambiguidades inerentes do ser humano e transformá-las em obras que nos colocam diante de mais uma urgência: a necessidade da busca pelo equilíbrio e a convivência harmoniosa entre o humano e a natureza, entre o homem e seus semelhantes.

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